02/11/2016

Produto Nacional: Entrevista com Carolina Mylius


Sejam bem-vindo a mais um "Produto Nacional".

Partimos para mais uma entrevista, porém numa "área" de atuação diferente.
Livros não são feitos apenas do conteúdo escrito, é preciso um trabalho de arte e é sobre isso que vamos falar hoje. 

Nossa entrevistada é a fofíssima e maravilinda Carolina Mylius, ilustradora e CAPISTA de vários livros nacional e internacional - olha que moral, hein!


Personagens da série Os Dragões de Titânia - Renato Rodrigues

A nossa ideia de trazer um(a) ilustrador(a) nesse quadro, é pra saber um pouco mais sobre esse trabalho em conjunto com a obra. Além de capista, a Carol também faz ilustrações que são inclusas na parte interna dos livros, dando um rosto aos personagens principais da trama. E o trabalho é simplesmente SEN-SA-CIO-NAL!!!
E o mais legal, são exatamente como imaginamos! É emocionante.


Então bora conhecer um pouco mais sobre a maravilinda da Carol!


EL&E: Quando começou a desenhar? Quando iniciou seu interesse pela arte? 
C.M.: Primeiro lugar eu é que agradeço o convite. 
Comecei a desenhar ainda em criança e tive a sorte de meus pais me incentivarem me colocando em cursos e comprando materiais de desenho. Na época não havia internet (falo da década de 90) e portanto as referências  que
eu tinha eram as encontradas nas revistas em quadrinhos ou desenhos animados.  

EL&E: Como é para você, quando está criando uma ilustração? (Como é o processo criativo? O que te inspira na hora de criar?)
C.M.: Meu processo é muito baseado em referências (fotos, pinturas de outros artistas, etc.) e estudos preliminares. As referências me ajudam com as ideias para a cena, iluminação, paleta de cores, formas e estilos diferentes, etc e os estudos preliminares são necessários para se entender como funciona determinada coisa. Por exemplo se preciso pintar um animal que nunca pintei antes preciso fazer um estudo desse animal, como é a anatomia dele, como é o pelo se houver, etc, para que eu possa reproduzi-lo na ilustração de forma satisfatória.


Ilustração interna do Livro
Lua das Fadas - Eddie Van Feu
EL&E: Quem é seu grande ídolo, aquele que a inspirou a seguir por esse caminho? 
C.M.: São muitos. Eu comecei desenhando quadrinhos então boa parte dos meus artistas favoritos na época eram dessa mídia. São eles Joe Madureira, Jim Lee, Scott Campbell, Roger Cruz, Clamp, Nobuhiru Watsuki, entre outros. Mas o que me fez escolher pela carreira de ilustradora foi, na realidade, a Disney. Meu primeiro objetivo foi ser animadora 2D, só mais tarde conheci os quadrinhos americanos e japoneses.

EL&E: Possui alguma mania ou peculiaridade quando está desenhando? Por exemplo, algum estilo de música específico, se tranca num quarto por horas e etc.
C.M.: Gosto muito de trabalhar sozinha ou ficar mais isolada quando preciso criar. Já trabalhei muito com música mas não tenho um estilo específico de música que me ajude na criação, varia de acordo com o que tenho vontade de escutar na hora. Ultimamente tenho escutado muito videos no youtube enquanto trabalho, principalmente palestras sobre política e filosofia. 

EL&E: Como foi ilustrar esses livros para você?

C.M.: Foi muito prazeroso. Alguns foram grandes desafios e me ensinaram muito durante o processo de criação e pintura.

EL&E: Quando faz uma capa ou uma ilustração para um livro, como funciona? O Autor lhe faz uma espécie de “retrato falado” dos personagens e você pinta as lacunas brancas dessa descrição ou trabalha apenas com alguns detalhes (os mais marcantes como cor dos olhos, cabelos ou pele) e produz a maior parte do personagem? 
C.M.: Depende do autor. Tem autores que não sabem o que realmente querem no personagem e me pedem para cria-los visualmente. Já outros me mandam a descrição do que querem no personagem e eu só completo as lacunas

EL&E: No Brasil, como você encara essa profissão? 
C.M.: A profissão de ilustrador abrange uma séria de funções e pode conseguir trabalho em várias áreas que vão desde publicidade e editorial até na área de moda. É uma profissão que vem crescendo bastante e pode ser muito lucrativa para os artistas que se destacam. Com a internet o mercado se expandiu para além das fronteiras do Brasil e no exterior a quantidade de trabalho é ainda maior.


EL&E: Como começou a realizar os cursos de Ilustração Digital? O que é mais difícil de ensinar para as pessoas na hora de produzir belíssimas imagens? 
C.M.: Acho que o mais difícil de ensinar é a pessoa ter disciplina para praticar. Arte é algo que exige muita prática para ficar bom. É basicamente um treinamento de percepção aliado a um treinamento muscular, como fazer exercícios em academia. É necessário que a musculatura do braço e da mão aprendam a fazer determinadas formas e isso só é possível com muita repetição. O mesmo acontece com a percepção. 

EL&E: Como ilustradora de livros e amante da literatura, nos dê sua opinião sobre o fato de brasileiros ainda lerem menos do que em outros países. Que medidas você acredita que deveriam ser tomadas para melhorar nossa média anual de leitura? 
C.M.: Acho que o problema do brasileiro não é apenas a quantidade de leitura, mas a qualidade. Mais de 50% das pessoas alfabetizadas são analfabetos funcionais ou seja não entendem o
que estão lendo. O resultado é que a grande maioria do sucessos de venda são livros de vocabulários rasos e sem desafios. Não acredito que incentivo a leitura seja papel das escolas, acho que é mais fácil se vier de exemplos da família ou do grupo de amigos, mas a escola vem prestando um desserviço imenso quando não ensina nem o elementar que é a gramática. Agora com o atual “politicamente correto”até mesmo falar e escrever errado vem sendo aceito nas escolas com a desculpa de não constranger aqueles que não conseguem falar ou escrever e de atribuir a linguagem culta algo pedante e fruto da elite “opressora”. 
Acho que primeiro precisamos reverter esse quadro nas escolas antes de buscar resolver o problema da leitura. 



EL&E: Além de ilustrações para livros, quais outros trabalhos você já fez? 
C.M.: Eu trabalhei por vários anos na indústria de jogos digitais na Southlogic Studios e durante dois anos na Ubisoft Brasil. Hoje ainda faço trabalhos de concept art para estúdios de jogos além de trabalhos pessoais. 


EL&E: Para trabalhar com ilustração digital, o que é preciso em relação a cursos e treinamento? Sem contar, é claro, com muito talento e bons contatos. 
C.M.: Eu não acredito muito em talento, acho que isso pode perfeitamente ser construído com estudo e trabalho duro. Quanto a área de cursos existem vários pelo Brasil e no exterior que são focados em Ilustração Digital. O curso que ministro por exemplo, na Napalm School (que vai se chamar Elemental School), tem duração de 10 meses e abrange todos os elementos básicos da ilustração. Mas muitos ilustradores são autodidatas uma vez que a internet oferece uma série de tutoriais e fóruns de discussão sobre arte então depende muito do perfil da pessoa. 

EL&E: Deixe um recado aos nossos leitores e aspirantes a ilustradores:
C.M.: Treinem muito. Busquem começar treinando aquilo que gostam . Arte é antes de tudo paixão e motivação então alimentem isso sempre.


Personagens da trilogia Lua das Fadas - Eddie Van Feu


Agora me diz, tem como não amar essas ilustrações perfeitas?! Eu sou super fã do trabalho da Carol, conheci ela a partir da trilogia Lua das Fadas, da Eddie Van Feu e o mais legal - para nós aqui da equipe e que moramos no Sul - é que a Carol é gaúcha também! 

E ela já participou de algumas edições da Feira do Livro daqui - que, aliais, está rolando até o dia 15 de novembro - autografando os livros que ilustrou (capa e ilustrações internas) e a Carol é super fofa, até conversamos um pouco sobre a série de livros Academia de Vampiros.

E nós ficamos muito felizes quando ela aceitou participar da entrevista - assim como todos os outros entrevistados, claro.





E cara, vou confessar, queria que a Carol ilustrasse o Peter e o Renan (mais adiante a gente conversa sobre eles, então fica a curiosidade de quem são esses dois moços, okay?!)!


E você, o que achou? Dá vontade de sair desenhando, não é?! Conta pra nós o que acharam da entrevista e o que estão achando dessa parte do nosso quadro.
Indiquem autores, ilustradores, diagramadores, capistas, enfim... queremos saber mais sobre vocês também!


Carinhosamente,
Equipe EL&E

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