20/03/2017

[Resenha] Confissões do Crematório, de Caitlin Doughty

Hello pessoal,
Sejam bem-vindo a mais uma Resenha.

Hoje vamos falar um pouquinho sobre um assunto que pode assustar muitas pessoas enquanto outras levam de "boas".
A morte.

Para alguns é um assunto evitado e delicado, mas para pessoas como Caitlin é rotina. Nesse livro ela conta algumas experiências vividas nessa jornada de trabalhar num crematório e ergue os véus que envolvem esse assunto quase tabu.

Bora conhecer mais sobre o livro.


TÍTULO: Confissões do Crematório
TÍTULO ORIGINAL: Smoke Gets In Your Eyes
SÉRIE: ---
AUTOR(A): Caitlin Doughty
EDITORA: DarkSide Books
PÁGINAS: 260
ANO: 2016
SAIBA MAIS: SKOOB

SINOPSE: Ainda jovem, Caitlin conseguiu emprego em um crematório na Califórnia e aprendeu muito mais do que imaginava barbeando cadáveres e preparando corpos para a incineração. A exposição constante à morte mudou completamente sua forma de encarar a vida e a levou a escrever um livro diferente de tudo o que você já leu sobre o assunto.
Confissões do Crematório reúne histórias reais do dia-a-dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos filosóficos, históricos e mitológicos. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Enquanto varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em chamas se parece, ela desmistifica a morte para si e para seus leitores.
O livro de Caitlin – criadora da websérie Ask a Mortician – levanta a cortina preta que nos separa dos bastidores dos funerais e nos faz refletir sobre a vida e a morte de maneira inteligente, honesta e despretensiosa – exatamente como deve ser. Como a autora ressalta na nota que abre o livro, “a ignorância não é uma bênção, é apenas uma forma profunda de terror”.

RESENHA: Já começando, direto e reto, pelo tema.
Ao tema, não estamos acostumados a entrar tão profundamente num mundo como o da Caitlin e máximo de contato que a maioria das pessoas tem, durante toda a vida, são velórios de parentes ou amigos e esse é o único momento em que se deparam com um cadáver. O tema é “deep” para a psique comum humana, pois estamos ligados fortemente por laços que vão muito além da carne e é aí que ambos os lados se mesclam.
Caitlin, como explica no livro, nunca imaginou-se trabalhando como uma agente funerária e ela nos apresenta essa novidade com seu primeiro cadáver, um senhor de idade ao qual ela deveria barbear. Um ato simples, mas que ganharia toda uma diferente gama de impressões ao deparar-se com corpo inerte sobre uma mesa fria.
Ela cria uma linha, tão visível entre a vida e a morte ao ponto de ser impossível ignorar todas as questões que aprendemos a temer sobre o fim da vida. Independente de todas as suas crenças – ou a falta delas – o assunto acaba batendo à sua porta em algum momento da vida.
Além das questões intangíveis, somos apresentados a toda a indústria funerária – do ponto de vista dos EUA – como funciona e como está tão intrincada quanto qualquer outro comércio popular.
De certa forma, pode-se dizer que é manipulativa, pois há uma frieza em mascarar o que a morte realmente é e esse é um dos principais assuntos que a autora aborda.
Hoje, tratamos a morte como algo distante, no sentido de que queremos manter distância desse evento, fomos ensinados a temer a morte e ver apenas o “lado” negro, como uma verdadeira peste. Caitlin nos faz refletir sobre como devemos lidar com esse momento, pois as pessoas acabam achando mais confortável que outros lidem com aquilo.

Podemos nos esforçar para jogar a morte para escanteio, guardando cadáveres
atrás de portas de aço inoxidável e enfiando os doentes e moribundos em quartos de hospital.
Escondemos a morte com tanta habilidade que quase daria para acreditar
que somos a primeira geração de imortais.
Mas não somos. Vamos todos morrer e sabemos disso.”
Página 13

Querendo ou não, estamos sujeitos a isso desde o momento em que líderes religiosos “perderam” sua função em conduzir as famílias do falecido, sendo um trabalho mais comum para médicos – como vemos em muitos casos de pessoas que morrem em hospitais. Isso acabou distanciando as pessoas do lado cerimonial de tudo.
Todas essas questões nos fazem pensar profundamente em nossas próprias crenças sobre a morte.
E Caitlin trata disse de uma maneira dupla, onde ela tem uma escrita nada rebuscada e mais coloquial, tornando assim, a leitura prazerosa. Ao mesmo tempo em que sabe “manipular” os elementos que envolvem esse tema, nos apresentando um livro muito além das expectativas.
Não é uma leitura pesada, mas pode não ser apropriada para algumas pessoas – sim, existem algumas partes nojentas em descrições – mas não são todas as pessoas que vão entender a importância que devemos dispensar para o assunto, não por queremos prolongar nossa vida e temer a morta e sim, para sabermos lidar quando a presenciamos.
Caitlin nos apresenta vários casos e a relação da família perante o falecido, seus pensamentos e a maneira com que algumas pessoas lidam com isso… algumas nem se preocupam, agem como se não fosse nada, enquanto outras zelam aquele momento.
Não se trata de um livro apenas de casos transcritos pela autora, mas, sim, de uma autoanalise, autoconhecimento e entendimento. É uma boa maneira de desmantelarmos alguns mitos e crenças desnecessárias sobre a morte.
E falando um pouco sobre a edição… acho que nem preciso mencionar o excelente trabalho da DarkSide, nee?! A arte externa e interna é fenomenal!!! Está com uma diagramação perfeita também!
DarkSide Books, vocês são 10!!!

MINHA OPINIÃO: Eu me surpreendi muito com essa leitura, tanto pelo tema quanto pela maneira com que Caitilin abraçou sua profissão. Pois vamos ser sinceros, não são todas as pessoas que possuem uma estrutura psicológica para lidar com algo assim… se tornar uma agente funerária.
E gente, não há nenhum problema nisso, é o que somos… é o que nos compõe. A proposta principal da Caitlin é nos mostrar o “backstage”/bastidores dessa indústria de uma maneira que não nos foi apresentado, ao mesmo tempo em que aborda o tema para o lado não-físico.
Em comparação com os EUA, o Brasil não sabe como… tratar de temas assim e isso é por conta de uma gama de motivos, em principal por não estar na nossa cultura popular. Nos EUA, há uma cultura – não tão popular, mas menos submersa do que por aqui – onde a morte é vista com outros olhos, onde ela é cultuada e respeitada.
Isso foi o que mais me fez pensar no quanto fomos facilmente corrompidos durante séculos – infelizmente isso é uma memória secular* – e em como criamos uma barreira de distanciamento ainda maior quando nos deparamos com alguém que cultua a morte – como esse é o tema, vou me ater apenas a ele.
É um livro de autoajuda? Não, exatamente. É um livro de autoconhecimento, o que é muito diferente. Ele faz com que você encare de frente a morte, encare seus próprios medos e crenças, fazendo com que você se questione – no bom sentido – e entenda que, por mais duro que possa ser, é um momento que chega para todos, pois é a natureza das coisas.
Eu realmente não estava esperando toda essa perspectiva amplo do livro. Apesar de me interessar pelo assunto, não estava achando que teria essa magnitude envolvente com a qual Caitlin enreda nossas mentes.
Não é, de modo algum, uma leitura convencional. Não é uma ficção. E também não é um tema que vai agradar a grande maioria, mas, com certeza, vai te surpreender! Recomendo para aqueles que não se importam de erguer esse véu e caminhar por um lado desconhecido ou pouco visto.

*Memória Secular: São impressões que nos foram impostas há muitos séculos atrás e que permanecem até os dias de hoje. Quase como “memória muscular”, porém mais destrutiva do que a outra.


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Até a próxima Resenha!


Carinhosamente,
Equipe EL&E

2 comentários:

  1. Mesmo achando que teria medo, sempre quis ler esse livro haha. Gostei bastante da resenha!

    Beijos,
    Clarissa do Próxima Primavera

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    Respostas
    1. Oi Clarissa, tudo bem?
      Obrigada! E não tenha medo, mesmo que o assunto seja "tabu", ele é abordado de maneira informal - por assim dizer - o que torna a leitura bastante agradável.
      Super recomendamos!

      Beijos!

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